O inimigo não mora ao lado,
porque numa noite de chuva eu vi que era uma casa mediana, de boa tinta e simetria, com cômodos amplos e tradicionais. Os móveis de madeira, os bibelôs de louça, os cristais que reluziam nesse aconchego que entorpecia e encantava.
De quem é essa casa?
Uma cristaleira refinada que eu forçava para ver de próximo algo que desse uma nota sobre o dono da casa; enquanto eu tentava abrir a cristaleira, assistia da janela a bela mulher dos cabelos longos negros colados nas lágrimas de sangue, alma violada que paria um novo marte, se desembaraçava do homem dos músculos e nervos; tudo o que ela queria é que ele entendesse, e tudo o que ele entendia era nada….
Era da minha janela que eu percebia o paradoxo da casa pobre:
ela queria crescer, se libertar
e eu tentava abrir a cristaleira
e dela eu queria sair
eu queria crescer, me libertar
Acho que essa é uma canção triste, sobre o segredo que a Rosa me sussurrava, sobre a bela prisão que o inimigo me criava.